Digitais Pretas: plataforma ajuda mulheres negras a impulsionarem seus negócios pela internet
Criadora do projeto, Néllys Côrrea abriu o perfil em 2020 para dar visibilidade para afro-negócios. Ano passado, tiveram início os eventos presenciais. Grup...
Criadora do projeto, Néllys Côrrea abriu o perfil em 2020 para dar visibilidade para afro-negócios. Ano passado, tiveram início os eventos presenciais. Grupo tem 8 mil seguidores no Instagram. A partir deste sábado (19), g1 publica série de reportagens em alusão ao Dia Nacional da Consciência Negra. Plataforma ajuda mulheres negras a impulsionarem seus negócios pela internet A partir deste sábado (19), o g1 publica uma série de reportagens em alusão ao Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. As matérias trazem ideias inovadoras, inspiradoras e que fomentam a cultura negra no Rio Grande do Sul. O primeiro exemplo é a Digital Pretas, uma impulsionadora de negócios voltada para mulheres negras. "Hoje eu me entendo como uma agente de transformação." Essa é a auto definição de Néllys Côrrea, criadora da Digital Pretas. Atualmente com 8 mil seguidoras, o perfil surgiu em 2020, inicialmente como um coletivo. "Dia 10 de dezembro de 2020 entrou no ar o perfil das Digitais Pretas com o propósito de empoderar mulheres, dar visibilidade para afro-negócios e fazer com que a gente se sentisse fortalecida e estivesse no lugar que a gente quisesse estar", contou Néllys em entrevista ao g1. O projeto começou depois fazer lives no Instagram com profissionais convidadas para falar do seus negócios. Assim, foi se conectando e criando uma rede colaborativa. "Então, surgiu a ideia de que nós juntas poderíamos, talvez, ser mais fortes." O primeiro encontro presencial aconteceu quase um ano depois, em outubro de 2021 e, no mês seguinte, ocorreu o primeiro workshop, ambos em Porto Alegre. "Nós fizemos o primeiro workshop, com palestras voltadas para gestão de projetos, empreendedorismo, finanças, estratégias de marketing digital. Em paralelo a isso, tinha o evento das afro-empreendedoras, elas estavam expondo os seus produtos. Aí começou a tomar forma essa impulsionadora." "O que eu entendo que as Digitais faz a diferença, é em enxergar essa mulher, essa empreendedora, essa empresária, além do negócio dela. Muitas de nós não conseguimos ter sucesso porque a gente não se sente, muitas vezes, pertencente àquele espaço, porque a gente cresceu ouvindo que a gente não podia, que não era pra nós. E eu me vi nessa situação quando eu tinha loja. Me sobrecarreguei e muitos fatores fizeram a gente fechar." Em março de 2022, foi lançado um curso de posicionamento digital, que atingiu 60 mulheres de diferentes regiões. "Desde letramento racial, porque é muito importante para essa empreendedora se reconhecer como uma mulher negra, reconhecer o potencial que ela tem, até copyright, até ela conseguir ter uma fala que impacte as pessoas e ela consiga vender o produto dela." A formação teve três meses e meio e contou com oito mentoras. O perfil já conta com mais de 8 mil seguidores Reprodução/ Instagram Em abril houve outro workshop na Casa Preta Hub, em São Paulo, com mulheres de diferentes regiões do país e, em junho deste ano, a plataforma se transformou em uma impulsionadora de negócios para mulheres negras. O projeto conta com três pilares: visibilidade, conhecimento e as ações presenciais. A partir da entrada no perfil das Digitais, as empreendedoras "conseguem ter a visibilidade que o perfil proporciona, elas participam de um grupo de networking, uma vez por mês a gente tem uma reunião com os nossos parceiros, na qual as meninas falam sobre o trabalho delas." As participantes também têm, uma vez por mês, uma masterclass, com uma das mentoras do grupo, "onde elas conseguem aprimorar os conhecimentos delas". "O mais importante, que eu acho, é conseguir se sentir pertencente a algum espaço. Muitas de nós não temos isso, não vivemos isso. E, principalmente, quando a gente está em um negócio e começa a crescer, a se destacar, e entendemos que, no momento em que a gente está subindo a quantidade de pessoas negras diminui, é muito complicado. Então, essa mulher precisa entender o potencial que ela tem, precisa se destacar para inspirar outras mulheres." Para entrar no clube das Digitais, Néllys diz que o único ponto que a mulher precisa ter é "querer estar junto com outras mulheres pretas, querer se empoderar e fazer com que o seu negócio, a sua história, sirva de inspiração para outras mulheres e ela também esteja pronta para se inspirar com outras mulheres." A maioria são empreendedoras, mas há profissionais de diferentes área. O último evento aconteceu em setembro, desta vez em Gramado. O objetivo do 'Casa das Digitais' foi mudar a imagem da mulher negra. Ela diz que, quando empreende, parece que é sempre na batalha, no cansaço, na busca de alguma coisa. "E quando surgiu a Casa das Digitais eu queria mostrar que essa mulher podia estar ali para celebrar, celebrar as vitórias, celebrar as conquistas, ter um momento de relaxamento porque nós merecemos, porque nós precisamos normalizar que uma mulher preta pode estar num lugar como Gramado, que é um desejo de muitas pessoas do país estar aqui." Néllys Corrêa criou o perfil do Digitais Pretas em 2020 Tainá Crisóstomo/ Divulgação Trajetória e recomeço Nascida em Cachoeira do Sul (RS), foi apenas quando há 10 anos se mudou para Gramado, na Serra, que ela começou a se entender como empreendedora. "Quando a gente tem um negócio grande, estabelecido, parece que ali, naquele momento, a gente deu certo, mas, no ano passado, em uma entrevista que eu dei, eu descobri que eu empreendia desde os 19 anos", lembra. Néllys teve salão de beleza, foi vendedora, deu aulas de dança e trabalhou com eventos. "Para muitas mulheres como eu, o empreender vem pela necessidade e a gente entende isso como um 'se virar', como 'ter um extra', como 'conseguir equilibrar as contas no final do mês'." A loja, surgiu na nova cidade e "foi um orgulho". Entretanto, ela ressalta que muitas questões foram desafiantes. Com a chegada da pandemia, ela relata que se viu num quadro de depressão, sem saber o que fazer. "A minha válvula de escape foi usar a rede social, usar o espaço da rede sociais para eu falar. Só que eu achava que ninguém ia me ouvir, como tinha acontecido a minha vida inteira, achava que eu era invisível ou que a minha fala não tinha poder. E a hora em que usei a rede social para desabafar, as pessoas me ouviram, me viram e se identificaram comigo." Foi a partir disso que ela entendeu que precisava ocupar aquele espaço para se fortalecer e fortalecer outras mulheres. "Só aí eu entendi que tinham muitas mulheres negras como eu que também passavam por aquela situação: tinham potencial, tinham conhecimento, tinham um negócio, mas não conseguiam atingir o público porque, muitas vezes, travavam quando iam para a rede social, muitas vezes travavam pela própria estrutura racista que ainda continua." Néllys avalia que a forma como as pessoas entendem o sucesso precisa ser revista: "A gente tem que começar a medir [o sucesso] pela agente, então, o empreender pode ser a menina que costura na vizinhança, ela tem um empreendimento, ela tem um negócio, basta a gente conseguir tornar aquilo real, formalizar, fazer com que cresça, com que tenha funcionários, é esse o nosso propósito." VÍDEOS: Tudo sobre o RS